O aumento das tensões comerciais e mudanças radicais no sistema de comércio global provocarão revisões para baixo nas previsões econômicas do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas nenhuma recessão global é esperada, disse a diretora-gerente do Fundo, Kristalina Georgieva, na quinta-feira (17).
Georgieva disse que as economias dos países estavam sendo testadas por uma reinicialização do sistema de comércio global — desencadeada nos últimos meses pelas tarifas dos Estados Uindos e retaliações da China e da União Europeia (UE) — que desencadeou uma incerteza “fora dos padrões” na política comercial e extrema volatilidade nos mercados financeiros.
“Interrupções acarretam custos, nossas novas projeções de crescimento incluirão reduções significativas, mas não recessão”, disse ela em um discurso antes das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial em Washington na próxima semana.
Espera-se que as tarifas de Trump e a turbulência nos mercados financeiros dominem as reuniões de primavera, que reúnem banqueiros centrais e ministros das finanças do mundo todo.
A incerteza elevada também elevou o risco de estresse no mercado financeiro, disse Georgieva, observando que os movimentos recentes nas curvas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA devem ser tomados como um alerta. “Todos sofrem se as condições financeiras piorarem”, disse ela.
Georgieva disse que a economia real mundial está funcionando bem, com um mercado de trabalho forte e um sistema financeiro sólido, mas alertou que percepções cada vez mais negativas e preocupações com a recessão também podem afetar a atividade econômica.
“Uma coisa que aprendi em períodos de crise é que as percepções importam tanto quanto a realidade”, disse ela. “Se as percepções mudarem negativamente, isso pode ser bastante prejudicial ao desempenho da economia.”
O presidente dos EUA, Donald Trump, abalou o sistema comercial global com uma onda de novas tarifas, incluindo um imposto americano de 10% sobre produtos de todos os países e taxas mais altas para alguns, embora essas tarifas tenham sido suspensas por 90 dias para permitir negociações.
China, UE e outros países anunciaram medidas retaliatórias.
Em janeiro, o FMI previu um crescimento global de 3,3% em 2025 e 3,3% em 2026. O FMI divulgará uma Perspectiva Econômica Mundial atualizada na terça-feira.
Georgieva não deu detalhes sobre as revisões esperadas, mas alertou que a incerteza prolongada seria custosa e disse que as consequências da reinicialização do comércio seriam “significativas”.
Ela disse que o FMI não esperava uma grande oscilação em nenhuma direção da inflação em geral, já que as tarifas poderiam elevar os preços ao consumidor e ao produtor, ou levar as pessoas a conter os gastos, o que poderia, na verdade, reduzir a inflação.
Mas as previsões atualizadas do FMI mostrariam uma inflação mais alta para alguns países, disse ela.
Economistas consultados pela Reuters esperam que a agressiva política tarifária dos EUA provoque uma desaceleração significativa na economia americana neste ano e no próximo, com a probabilidade de uma recessão no próximo ano subindo para 45%, a maior desde dezembro de 2023, ante 25% no mês passado.
Este conteúdo foi originalmente publicado em FMI vê impacto de tensão comercial no crescimento global, mas sem recessão no site CNN Brasil.